top of page
Outros Posts Em Destaque
Fonte: Fox

Sete anos, 2,8 bilhões de dólares, quatro Academy Awards depois, e ainda assim nenhum resquício de Avatar pode ser observado na Cultura Pop, nenhum séquito fiel de fãs ou qualquer possibilidade de expandir seu universo ou desenvolver um Spin Off fora ao menos considerada. Não fosse pelo sucesso estrondoso de Star Wars: Episódio VII, que ameaçou sua soberania no Box Office global, provavelmente poucos ainda se lembrariam do Sci-Fi espacial. Quais são os fatores que podem ter tornado o longa de James Cameron um sucesso tão arrebatador quanto esquecível?

Entre idas e vindas ao fundo do mar ao longo da década de 00, James Cameron passou praticamente dez anos atiçando o mundo com declarações de que seu próximo projeto seria uma revolução no cinema como experiência de entretenimento e arte. Esse tipo de comentário não saía da boca de um diretor qualquer, mas do homem que trouxera pouco tempo antes, o sucesso de crítica e público, “Titanic”. Com onze Oscars e até então a maior bilheteria de todos os tempos, o longa agregou ainda mais ao currículo do diretor, que já contava com outros recordistas como "Exterminador do Futuro 2" e "Aliens". Pode-se considerar dessa forma, que a construção do “hype” fora pacientemente arquitetada, sobretudo, em cima da reputação e dos comentários do diretor, lotadas de promessas messiânicas sobre o seu Magnum Opus em potencial. Porém, mesmo com o currículo invejável, o diretor não postulava como uma unanimidade na FOX. Em entrevista a uma rede de televisões norte americana, um ano após o lançamento do longa, o diretor revelou que apresentou aos executivos do estúdio um trecho de quarenta segundos de um plano único, com a intenção de reafirmar que o investimento monstruoso até então, beirando os 425 milhões de dólares ainda seria válido. Também em entrevista ao mesmo canal, Cameron afirmou que um fator preponderante na demora da produção, fora o longo desenvolvimento da tecnologia de mapeamento facial e corpóreo necessários para criar movimentos e expressões que acompanhassem a profundidade das emoções dos personagens e escapassem do temido Uncanny Valley; além da câmera para captação do 3D criada por sua empresa, juntamente com Peter Jackson; assim como a própria concepção de Pandora – a lua em que o filme se desevolve -, sua fauna e flora em todas as suas nuances, que sozinhos levaram aproximadamente dois anos até sua conclusão.

O Mundo se rende à Pandora, por ora...

Depois da longa e arrastada produção, finalmente, durante a Comic-Con 2009, Cameron anunciou que em meados de Agosto do mesmo ano, ocuparia diversas salas de IMAX ao redor do mundo e liberaria os quinze primeiros minutos do filme para a apreciação de críticos e entusiastas. Segundo o próprio, isso serviria como um “experimento social de mercado”.  Com a materialização do conceito de Avatar, que não passara de mera especulação por muito tempo, público e crítica logo perceberam que nada de inovador viria no âmbito da narrativa e do enredo, e o discurso mais comum entre os que haviam visto a degustação na época era de que o longa mais parecia um “retalho de Pocahontas, O Último Samurai e Dança com Lobos, no espaço”. Mas não demorou até o pessimismo em relação à qualidade final do filme se transformar em euforia na  premiere  em dezoito de dezembro do mesmo ano. Simplesmente a melhor abertura da história do cinema norte americano com 77 milhões de dólares em um final de semana. “Visualmente estonteante”, “de tirar o fôlego” e “Fantástico” eram expressões corriqueiras nas críticas de jornal e nas conversas casuais. Parecia então que as imperfeições crassas encontradas na sua primeira impressão, não fariam tanta diferença diante da qualidade sem precedentes dos efeitos, e então, por algum tempo, pensou-se que a expectativa de anos de espera havia sido atingida.

Com ajuda dos preços estapafúrdios dos cinemas 3D e IMAX, em três semanas o filme ultrapassava a marca de 1 bilhão de dólares, e em trinta e oito dias destronava Titanic como a maior bilheteria de todos os tempos. Para compreender melhor esses valores, podemos imaginar Avatar como uma obra que apareceu no lugar e na hora certas. A temática anti-militar de plano de fundo se sustentava bem enquanto os EUA ainda ocupavam parte do Oriente Médio em suas incursões imperialistas, fato que já dividia opiniões no próprio país e no resto do mundo. De certa forma, essa conjectura acabou por soar como uma análise crítica e pontual aos conflitos globais contemporâneos, conquistando parte da crítica (1 ponto); o perfeccionismo quase patológico de James Cameron que o fez estender cada vez mais a produção, também coincidiu com o momento em que boa parte dos cinemas já continham salas apropriadas para a reprodução do longa, o que incrementou também os índices de revisitação às salas de cinema, quem viu em 2D quis ver em 3D, quem viu em 3D queria ver no IMAX, além de espalhar as boas novas ao próximo, conquistando o público (2 pontos). A promoção, o marketing e toda a névoa que circundou a produção do filme, como citados no princípio da matéria, podem ser considerados outros influenciadores nos números descomunais que até hoje aparecem muito acima de qualquer outro blockbuster. E mesmo assim, ninguém se importa.   

Um erro previsto

Apesar de todo cuidado e dedicação de Cameron ao longo de uma década com o projeto, Avatar não deixou rastros que não fossem de dinheiro. O grande ponto a se levantar para tentar explicar esse fenômeno é entender como o longa se perdeu em sua grandiloqüência, não deixando espaço para criar e desenvolver uma narrativa bem trabalhada. Desenrola-se um enredo estritamente linear, que conta apenas uma história e a partir de um único ponto de vista, facilitando assim a quem assiste prever com quase cem por cento de exatidão os desfechos de cada um dos personagens, esses que por sua vez, apesar de bem interpretados pelo talentoso elenco, são vazios e rasos demais para criar alguma sensação de empatia. A impressão é que são todos, incluindo os seres humanos, realmente Avatares, corpos vazios sem passado, e com presente e futuro desinteressantes. Se não existe identificação, não existe memória, e foi justamente isso que aconteceu com o longa. Todos esses fatores foram preponderantes para a não fixação de Avatar no panteão dos filmes mais memoráveis do cinema, ou ao menos entre aqueles que possuem a capacidade de flutuar em diversas mídias e mercados , e sobreviver a imensos hiatos e ainda serem lembrados pelo público.

No saldo final, é realmente possível encontrar um legado relevante deixado pela ultima obra de Cameron: a revitalização e a prova da lucratividade do cinema 3D, que andava morto e enterrado há tempos. A indústria cinematográfica adotou e normalizou a conversão digital das películas em 2D para 3D, com o argumento de ampliar a experiência do espectador. Dados do site especializado “Box Office Mojo”, demonstram como realmente a onda 3D alavancou as bilheterias das estreias pós Avatar. Alice no País das Maravilhas, de Tim Burton, contabilizou nas bilheterias 70% dos 116 milhões de dólares de sua estréia apenas em exibições 3D, assim como Tron, ainda mais surpreendente com 82% dos 44 milhões de dólares em cinemas com essa tecnologia.  Até Scorsese embarcou na onda e filmou Hugo usufruindo do estilo. Mas, obviamente, como em qualquer outro setor, a voz mercadológica já falava mais alto que a real necessidade de aplicar o efeito. Criou-se dessa forma uma corrida desorganizada que acotovelava e empurrava em cada sala 3D um simulacro feito as pressas e completamente desnecessário. James Cameron filmara toda a extensão de Avatar, com câmeras 3D especiais e utilizando técnicas que realçariam essa percepção, processo que custava muito mais e elevava consideravelmente o orçamento de quem a utilizasse.  Podemos citar algumas obras filmadas inteiramente em 2D que por pressão interna dos estúdios, nem um pouco dispostos a arcar com esse tipo de investimento, acabaram sendo submetidas, em sua pós-produção, à conversões precárias, e que muitas vezes apresentavam qualidade de imagem inferior à própria película original: O Homem de Aço  de Zack Synder; Pirates do Caribe 4  de Rob Marshall e O Último Mestre do Ar de M.Night Shayamalan, são três dos muitos filmes que utilizaram da pior forma possível essa tecnologia, seja escurecendo e dificultando a visão dos espectadores, ou não apresentando nível algum de profundidade, qualidade essa que pode ser considerada um dos pilares desse tipo de visualização.

Um Diretor incansável em surpreender

Para o bem ou para o mal, Avatar deixou algo em sua posteridade. Mesmo não dominando o mercado de brinquedos, lancheiras e todas as formas de se recauchutar um produto conhecidas, estará sempre marcado nos anais do cinema como mais um feito impressionante do incansável James Cameron em sua eterna busca pela perfeição. E parece que a história se repete mais uma vez, entre comentários de “revolucionário” e “Sem precedentes”, Avatar 2 vem sendo anunciado e adidado mês após mês, e mais uma vez pelos mesmos motivos. Não ouso apostar em um “hat trick”, nesse caso prefiro não esperar nada, pois, diferente dos personagens do primeiro longa da futura franquia, Cameron é uma peça completamente imprevisível.

Cameron exibe sua câmera de captção 3D desenvolvida excluisivamente para o longa

Por Artur Siciliano

Estudante de , 23 anos, carioca e fundador deste site. Apaixonado por video-games, literatura, cinema, esportes e que sonha em atravessar o Oceano Pacífico de barquinho, apertar a mão e dar um tapinha nas costas do Tarantino e ressuscitar George Orwell e Carl Sagan.  

Please reload

© 2015-2016 - rascunhando.com.br  - Administrado por Artur Siciliano. Todos os direitos reservados. Desenvolvido por D&B Consulting.

bottom of page