O Regresso
Resenha
Definitivamente não é uma história complexa, muito menos original, apenas mais um conto sobre vingança familiar, com personagens muito bem especificados em seus respectivos lugares como vilão e mocinho. Mas como em qualquer arte dedicada a recontar e reproduzir acontecimentos, devemos enxergar O Regresso como uma obra que primou, antes de qualquer coisa, por sua narrativa. Seu desenvolvimento é lento, mas bem distribuído ao longo de seus cento e cinquenta e seis minutos. Os momentos de tensão se alternam de maneira pontual entre o drama e o surrealismo baseado em um desgaste mental do protagonista. É facilmente perceptível como a lentidão preserva e evidencia a magnífica fotografia elaborada para nos apresentar fielmente um EUA em amanhecer do século XIX, com suas exuberantes montanhas, planícies sem fim e imensas florestas de cecóias centenárias. Todos esses aspectos se somam e contribuem para o desenvolvimento do enredo e suas consequências para cada personagem presente na trama.
O mais novo longa de Alejandro Iñárritu carrega fortemente seus traços, poupa cortes secos e transforma a sua apreciação em uma experiência quase teatral, porém, diferente de sua última película, Birdman, muito criticado por abusar de planos sequencias e causar até certo cansaço visual, o diretor mexicano guarda a técnica apenas para os momentos de tensão, o que, de certa forma, preserva uma dualidade entre a ação e a contemplação. Os closes constantes e a elaborada edição de som nos provocam uma sensação de imersão que poucos filmes conseguem reproduzir, provavelmente a experiência em uma sala IMAX seja ainda melhor do que em um sala convencional, e não apenas uma jogada de marketing que já saturou de filmes genéricos a indústria cinematográfica. Vale ressaltar a maquiagem e os efeitos especiais, que por conta do apelo visual em que foi pautado o longa, foram muito exigidos, e corresponderam a altura. As lacerações e os feridas espalhadas pelo corpo de DiCaprio eram tão reais que estômagos fracos não aguentariam encarar por muito tempo, assim como os momentos
Pelo fato de não ocorrerem muitos diálogos ao longo da película, existe certa carência na profundidade dos personagens, por consequência, soam como mal aproveitados em alguns momentos. Diferente de outro drama histórico norte americano como There Will be Blood, de Paul Thomas Anderson, onde houve uma dedicação afim de criar e elaborar uma psique bem específica para Daniel Plainview interpretado pelo fantástico ator britânico Daniel Day Lewis, Irranitu não pareceu dar muita importância a esses aspectos no caso de Leonardo DiCaprio, na pele do comerciante e explorador Hugh Glass. Todavia, o elenco recheado de atores talentosíssimos dá vida a características muito mais emocionais do que a traços de personalidade marcantes. Leo, Tom Hardy e Domhnall Gleeson são os destaques na atuação, impressionando por suas performances marcantes. DiCaprio mostra mais uma vez o quanto consegue se reinventar a cada novo papel, criando um retrato único sob a ótica da vingança e da redenção de um homem que ao ser atacado por um urso é deixado para trás por seu companheiros. Após abocanhar o Globo de Ouro como melhor ator em drama, parece ter se tornado o grande favorito ao Academy Awards desse ano, seguido de perto por Eddie Redymane, que busca a segunda estatueta seguida por Danish Girl. Essa talvez seja a indicação mais concisa do ator de 41 anos, que já possui outras 4 indicações no currículo por filmes como Gilbert Grape - Aprendiz de Sonhador, O Aviador, Diamante de Sangue, e O Lobo de WallStreet. A serenidade dos momentos anteriores ao ultra-realista ataque do urso ao personagem de Leo, contrasta com o desespero de assistir à execução do próprio filho e a luta por sobreviver em um ambiente extrememente hostil, e nas duas situações o ator demonstra como a sua atuação assumiu um tom mais maduro.
Apesar do fim previsível, O Regresso é favorecido por visuais estonteantes, atuações consistentes, e uma narrativa única e bem elaborada que fazem do longa uma obra singular do gênero, além, é claro, do perfeccionismo quase patológico de Iñárritu em todas as nuances estéticas e emocionais. Todas essas caracterpisticas foram responsáveis por garantir uma medalha de prata no nosso rascunhômetro.

Por Artur Siciliano
Estudante de Letras, 23 anos, carioca e fundador deste site. Apaixonado por video-games, literatura, cinema, esportes e que sonha em atravessar o Oceano Pacífico de barquinho, apertar a mão e dar um tapinha nas costas do Tarantino e ressuscitar George Orwell e Carl Sagan.