A Via crucis do camisa 9
Crônica
Podem chorar, espernear, se debater, balbuciar palavras de ódio, espumar, hidrofóbicos em desespero, duvidar do homem e de sua palavra, e até crucificá-lo de cabeça para baixo, para que o sangue empossado em suas chuteiras arraste-se lentamente por todo seu corpo, até findar, já translúcido, em sua testa suada. Podem tudo, podem tanto, que até já fazem, assim como dizem os “especiocratas” travestidos em camisas sociais, "com base em dados", "em minutos jogados", "em noves passados", "em lances desperdiçados”. Para estes, meus amigos, a quem tudo além do óbvio ululante escapa à visão e que das bocas só saem trivialidades do senso comum, o universo reserva os Jôs, os Afonsos, os Adrianos, que do nada brotaram e ao nada são destinados.
O homem a quem tornam a arremessar galhos e pedras é o homem das grandes guerras, não de pelejas pouco significantes. É um homem acostumado a derrubar titãs e não a agredir pedintes ou batedores de carteira. Sabe Deus - e só ele - quais feitos grandiosos tal homem por ventura encontrará, porém, sabem todos os mortais, o que ele já fez e do que é capaz de fazer. Sim, foram dois jogos e dois chutes a gol, que aos goleiros pouco incomodaram. Sem contar os incontáveis impedimentos, erros de passe e domínio. Mas eu vos pergunto, o que isso importa? É uma Copa do Mundo? Sim. Todos os jogos são importantes? Sim, todavia, uns mais que os outros, e será ai então, meus amigos, aonde a morte e a derrota prevalecem, que o guerreiro sobressai ao jogador.
Com todo cuidado que um empréstimo necessita, apropriando-me de algumas palavras do mestre Nelson, afirmando com toda PARCIALIDADE passional de um torcedor e me esforçando ao limite para manter certa eloqüência no discurso, eu vos digo que o Fred é o melhor atacante para a seleção. E podem me dizer que os fatos provam o contrário, que eu vos respondo: pior para os fatos.

Por Artur Siciliano
Estudante de Jornalismo, 23 anos, carioca e fundador deste site. Apaixonado por video-games, literatura, cinema, esportes e que sonha em atravessar o Oceano Pacífico de barquinho, apertar a mão e dar um tapinha nas costas do Tarantino e ressuscitar George Orwell e Carl Sagan.